terça-feira, 26 de novembro de 2013
Vygotsky
Biografia
Lev Semenovich Vygotsky Nasceu a 17 de novembro de 1896 em
Orsah, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia, região então
dominada pela Rússia, Seus pais eram de uma família judaica culta e com boas
condições econômicas, o que permitiu a Lev Semenovich Vygotsky uma formação
sólida desde criança. Até os 15 anos foi educado em casa por tutores
particulares.
Aos 18 anos, matriculou-se no curso de medicina em Moscou,
mas acabou cursando a faculdade de direito. Formado, voltou a Gomel, na
Bielo-Rússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou. Lecionou
literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia –
área em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu
pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200
trabalhos científicos.
Em 1924, casa-se com Roza Smekhova. Tiveram duas filhas.
Desde 1920 conviveu com a tuberculose. Apesar de sua formação em Direito,
destacou-se à época por suas críticas literárias e análises do significado
histórico e psicológico das obras de Arte, trabalhos que posteriormente foram
incorporados no livro "Psicologia da Arte", escrito entre 1924 e
1926, incluindo naturalmente a tese de doutorado sobre Psicologia da Arte, que
defendeu em 1925. O seu interesse pela Psicologia levou-o a uma leitura crítica
de toda produção teórica de sua época, nomeadamente as teorias da
"Gestalt", da Psicanálise e o "Behaviorismo", além das
ideias do educador suíço Jean Piaget.
Ao longo de seus textos Lev Semenovich Vygotskyrecorre,
freqüentemente a situações extraídas de obras literárias, ele escreveu
aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde
neuropsicológia até criticas literárias, passando por deficiência, linguagem,
psicolgia, educação e questões teoricas e metodologicas relativas às ciências
humanas.
Entre os seus trabalhos de campo incluem-se visitas às
populações camponesas isoladas de seu país, fazendo testes neuropsicológicos
entre as aldeias nômades do Uzbequistão e do Quirguistão (Ásia Central), antes
e depois do realinhamento cultural e sócio-econômico da revolução socialista,
que incluía alfabetização, cursos rápidos de novas tecnologias, organização de
brigadas, fazendas coletivas e outros, como descreve Alexander Luria em seu
ensaio sobre diferenças culturais e o pensamento (Vigotskii et al., 1988).
A experiência vivida na formação de professores levou-o ao
estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, das diversas formas de
deficiências congênitas e adquiridas, a exemplo da afasia. Complementando a sua
formação para estudo da etiologia de tais distúrbios, graduou-se em Medicina
retomando o curso iniciado e substituído por Direito em Moscou e retomado e
concluído em Kharkov. O seu interesse em Medicina estava associado à manutenção
do grupo de pesquisa ("troika") de neuropsicologia com Alexander
Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev. As suas principais contribuições à
defectologia estão reunidas no livro "Psicologia Pedagógica".
Graças a uma conferência proferida no "II Congresso de
Psicologia" em Lenigrado, foi convidado a trabalhar no Instituto de
Psicologia de Moscou. O seu interesse simultâneo pelas funções mentais
superiores, cultura, linguagem e processos orgânicos cerebrais pesquisados por
neurofisiologistas russos com quem conviveu, especialmente Luria e Leotiev, em
diversas contribuições no "Instituto de Deficiências de Moscou", na
direção do departamento de Educação (especial) de Narcompros, entre outros
institutos, além das publicações sobre o tema, encontram-se reunidos na obra
"A Formação Social da Mente", onde aborda os problemas da gênese dos
processos psicológicos tipicamente humanos, analisando-os desde a infância à
luz do seu contexto histórico-cultural.
Devido a vários fatores, inclusive a tensão política entre
os Estados Unidos e a União Soviética após a última guerra, o trabalho de Lev
Semenovich Vygotskypermaneceu desconhecido a grande parte do mundo ocidental
durante décadas. Quando a Guerra Fria acabou, este incrível patrimônio de
conhecimento deixado por Lev Semenovich Vygotsky começou a ser revelado. O nome
deLev Semenovich Vygotsky hoje dificilmente deixa de aparecer em qualquer
discussão séria sobre processos de aprendizado.
Lev Semenovich Vygotsky Pensador importante em sua área, foi
pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em
função das interações sociais e condições de vida. Faleceu em Moscou, em 11 de
junho de 1934, vítima de tuberculose, doença com que conviveu durante quatorze
anos.
Fonte:
http://www.psicoloucos.com/Vygotsky/biografia-de-lev-semenovich-vygotsky.html
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Marta Kohl sobre Vygotsky
(em seu livro:
Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento.Um processo sócio-histórico)
"Na área de psicologia da educação, Piaget tem sido
nossa principal referência, históricamente, então o aparecimento do Vygotsky
trouxe uma outra alternativa e o Piaget não é um autor que se preocupe
particularmente com a escola, com o professor, com a intervenção pedagógica.
Uma forma muito interessante da gente entrar na concepção do
Vygotsky sobre o desenvolvimento é uma questão que ele chamou de planos
genéticos de desenvolvimento, que é uma idéia, de que o mundo psíquico, o funcionamento
psicológico não está pronto previamente, quer dizer, não é inato, não nasce com
as pessoas, mas também não é recebido pelas pessoas como um pacote pronto do
meio ambiente. Então Vygotsky é um autor como outros, por exemplo, Piaget,
Wallon, que é um autor chamado interacionista porque ele leva em conta coisas
que vem de dentro do sujeito e coisas que vem do ambiente, mas a postulação
interacionista do Vygotsky ganha vida se a gente prestar atenção nesta questão
dos planos genéticos que ele possui porque ele fala em quatro entradas de
desenvolvimento que juntas caractezariam o funcionamento psicológico do ser
humano. Então uma é a filogênese que é a história da espécie humana, outra é
ontogênese que é a história do indivíduo da espécie, outra é a sócio-gênese que
é a história do meio cultural em que o sujeito está inserido e a outra é a
micro-gênese que é um aspecto mais microscópico do desenvolvimento."
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=pZFu_ygccOo
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Paulo Freire
Biografia
Paulo Reglus Neves Freire, educador brasileiro. Nasceu no
dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco.
Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Paulo Freire
tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América
Latina e na África. Pelo mesmo motivo, sofreu a perseguição do regime militar
no Brasil (1964-1985), sendo preso e forçado ao exílio.
O educador apresentou uma síntese inovadora das mais
importantes correntes do pensamento filosófico de sua época, como o existencialismo
cristão, a fenomenologia, a dialética hegeliana e o materialismo histórico.
Essa visão foi aliada ao talento como escritor que o ajudou a conquistar um
amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes
políticos.
A partir de suas primeiras experiências no Rio Grande do
Norte, em 1963, quando ensinou 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, Paulo
Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização, adotado primeiramente
em Pernambuco. Seu projeto educacional estava vinculado ao nacionalismo
desenvolvimentista do governo João Goulart.
A carreira no Brasil foi interrompida pelo golpe militar de
31 de março de 1964. Acusado de subversão, ele passou 72 dias na prisão e, em
seguida, partiu para o exílio. No Chile, trabalhou por cinco anos no Instituto
Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Nesse período, escreveu o seu principal
livro: Pedagogia do Oprimido (1968).
Em 1969, lecionou na Universidade de Harvard (Estados
Unidos), e, na década de 1970, foi consultor do Conselho Mundial das Igrejas
(CMI), em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional a
governos de países pobres, a maioria no continente africano, que viviam na
época um processo de independência.
No final de 1971, Freire fez sua primeira visita a Zâmbia e
Tanzânia. Em seguida, passou a ter uma participação mais significativa na
educação de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. E também influenciou
as experiências de Angola e Moçambique.
Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil,
onde escreveu dois livros tidos como fundamentais em sua obra: Pedagogia da
Esperança (1992) e À Sombra desta Mangueira (1995). Lecionou na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Em 1989, foi secretário de Educação no Município de São Paulo,
sob a prefeitura de Luíza Erundina.
Freire teve cinco filhos com a professora primária Elza Maia
Costa Oliveira. Após a morte de sua primeira mulher, casou-se com uma ex-aluna,
Ana Maria Araújo Freire. Com ela viveu até morrer, vítima de infarto, em São
Paulo.
Doutor Honoris Causa por 27 universidades, Freire recebeu
prêmios como: Educação para a Paz (das Nações Unidas, 1986) e Educador dos
Continentes (da Organização dos Estados Americanos, 1992).
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Emilia Ferreiro sobre Paulo Freire:
"E falando em alfabetização de adultos no Brasil é impossível
ignorar a enorme contribuição de Paulo Freire que permitiu recuperar certas
dimensões do processo de alfabetização que não tinham sido focalizadas
convenientemente. Em especial as dimensões sociais e a dimensão política do
processo de alfabetização. E graças a difusão internacional do pensamento de
Paulo Freire hoje em todos os fóruns internacionais é sabido que não é possível
prescindir do pensamento latino-americano sobre a alfabetização.
E gostaria de encerrar esta apresentação, esta conversa com vocês, lendo alguns
trechos do que eu disse no México em 1997, numa homenagem a Paulo Freire logo
depois de sua morte. Algumas das coisas que eu disse são as seguintes:
Quero prestar homenagem a um homem que foi coerente toda a sua vida. Alguém que nunca escreveu para transmitir desânimo, pessimismo, abatimento. A um lutador incansável, a um lutador que busca o diálogo e talvez por isso concedeu tantas entrevistas durante sua intensa vida. Numa das entrevistas que deu em janeiro de 1996 a pessoa que faz a entrevista lhe pergunta: “Então Paulo, você está a favor do diálogo e ao mesmo tempo a favor da luta?” e Paulo responde: “Sim. Alguns pensaram que por defender o diálogo eu negava o conflito. Não, jamais neguei o conflito. O conflito está aí, e é fundamental no desenvolvimento e no processo histórico. A luta me faz, a luta me constitui, a luta me forma. Ela é pedagógica.” E acaba falando: “Só que como a luta é histórica, as formas de lutar também mudam”.
Em outra ocasião em que o escutei falar novamente sobre a luta, disse: “Acho que não há nada sem ousadia, uma dose de insensatez é absolutamente fundamental numa pedagogia da indignação que é a pedagogia que venho defendendo neste país sob outros nomes”.
Então a pedagogia da indignação em 1987 não é, por acaso, a pedagogia dos oprimidos em 1970? Da liberação, da conscientização, da esperança em 1992? Da autonomia em 1996?
Talvez todos esses nomes designam a mesma coisa, numa visão essencialmente dialética do ato educativo, porque a indignação anda de mãos dadas com a esperança e com a necessidade de uma utopia.
A pessoa lhe pergunta: “Paulo, você ainda sonha?” Ele responde: “Sim sonho. Eu sonho no mínimo com que não seja possível dizer que não é possível sonhar.” Isso ele falou aos 74 anos. Creio que essa mensagem de luta, essa mensagem da necessidade de enfrentar o discurso economicista da impossibilidade é cada dia mais necessário e mais difícil construir, porém a globalização apresentada como único sistema possível impede de pensar e contra isso estava Paulo, estou eu, e espero que estejam vários de vocês."
Quero prestar homenagem a um homem que foi coerente toda a sua vida. Alguém que nunca escreveu para transmitir desânimo, pessimismo, abatimento. A um lutador incansável, a um lutador que busca o diálogo e talvez por isso concedeu tantas entrevistas durante sua intensa vida. Numa das entrevistas que deu em janeiro de 1996 a pessoa que faz a entrevista lhe pergunta: “Então Paulo, você está a favor do diálogo e ao mesmo tempo a favor da luta?” e Paulo responde: “Sim. Alguns pensaram que por defender o diálogo eu negava o conflito. Não, jamais neguei o conflito. O conflito está aí, e é fundamental no desenvolvimento e no processo histórico. A luta me faz, a luta me constitui, a luta me forma. Ela é pedagógica.” E acaba falando: “Só que como a luta é histórica, as formas de lutar também mudam”.
Em outra ocasião em que o escutei falar novamente sobre a luta, disse: “Acho que não há nada sem ousadia, uma dose de insensatez é absolutamente fundamental numa pedagogia da indignação que é a pedagogia que venho defendendo neste país sob outros nomes”.
Então a pedagogia da indignação em 1987 não é, por acaso, a pedagogia dos oprimidos em 1970? Da liberação, da conscientização, da esperança em 1992? Da autonomia em 1996?
Talvez todos esses nomes designam a mesma coisa, numa visão essencialmente dialética do ato educativo, porque a indignação anda de mãos dadas com a esperança e com a necessidade de uma utopia.
A pessoa lhe pergunta: “Paulo, você ainda sonha?” Ele responde: “Sim sonho. Eu sonho no mínimo com que não seja possível dizer que não é possível sonhar.” Isso ele falou aos 74 anos. Creio que essa mensagem de luta, essa mensagem da necessidade de enfrentar o discurso economicista da impossibilidade é cada dia mais necessário e mais difícil construir, porém a globalização apresentada como único sistema possível impede de pensar e contra isso estava Paulo, estou eu, e espero que estejam vários de vocês."
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=zeFogTRJiOs
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Jean Piaget
Biografia
Jean Piaget iniciou sua extensa biografia no dia 9 de agosto
de 1896 (data de seu nascimento), em Neuchâtel, na Suíça. Seu pai (Arthur Jean
Piaget), um calvinista convicto, era professor universitário de Literatura
medieval na Universidade de Neuchâtel. Desde criança interessou-se por mecânica,
fósseis e zoologia. Jean Piaget foi uma criança precoce, tendo publicado seu
primeiro artigo sobre um pardal albino aos 11 anos de idade. Esse breve estudo
é considerado o início de sua brilhante carreira científica. Aos sábados, Jean
Piaget trabalhava gratuitamente no Museu de História Natural.
Jean Piaget freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde
estudou Biologia e Filosofia. Ele recebeu seu doutorado em Biologia em 1918,
aos 22 anos de idade.
Após formar-se, Jean Piaget foi para Zurich, onde trabalhou
como psicólogo experimental. Lá ele freqüentou aulas lecionadas por Jung e
trabalhou como psiquiatra em uma clínica. Essas experiências influenciaram-no
em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental - que é um
estudo formal e sistemático - com métodos informais de psicologia: entrevistas,
conversas e análises de pacientes.
Em 1919, Jean Piaget mudou-se para a França, onde foi
convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo
infantil que desenvolveu testes de inteligência padronizados para crianças.
Jean Piaget notou que crianças francesas da mesma faixa etária cometiam erros
semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve
gradualmente.
O ano de 1919 foi um marco em sua vida. Jean Piaget iniciou
seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também
sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de
Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como
sendo uma evolução gradativa.
Em 1921, Jean Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de
estudos no Instituto J. J. Rousseau da Universidade de Genebra. Lá ele iniciou
o maior trabalho de sua vida, ao observar crianças brincando e registrar
meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas.
Em 1923, Jean Piaget casou-se com Valentine Châtenay uma de
suas ex-alunas, com quem teve três filhas: Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e
Laurent (1931). As teorias de Jean Piaget foram, em grande parte, baseadas em
estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. Em
1929, Jean Piaget aceitou o posto de diretor do Internacional Bureau of
Education e permaneceu à frente do instituto até 1968. Anualmente ele
pronunciava palestras no IBE Council e na International Conference on Public
Education, nos quais ele expressava suas teses educacionais.
Enquanto prosseguia com suas pesquisas e publicações de
trabalhos, Jean Piaget lecionou em diversas universidades européias. Registros
revelam que ele foi o único suíço a ser convidado para lecionar na Universidade
de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963.
Em 1964, Jean Piaget foi convidado como consultor chefe de
duas conferências na Cornell University e na University of California. Ambas as
conferências debatiam possíveis reformas curriculares baseadas nos resultados
das pesquisas de Jean Piaget quanto ao desenvolvimento cognitivo. Em 1979, ele
recebeu o Balzean Prize for Political and Social Sciences.
Até a data de seu falecimento, Jean Piaget fundou e dirigiu
o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante
carreira, Jean Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos
científicos.
Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo
suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil.
Jean Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com
crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande
impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.
Jean Piaget morreu em Genebra, em setembro de 1980 (com 84
anos).
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- A teoria de Piaget
sobre a Linguagem e o Pensamento das crianças (por Vygotsky)
A psicologia deve muito a Jean Piaget. Não é exagero
dizer-se que ele revolucionou o estudo da linguagem e do pensamento infantis,
pois desenvolveu o método clínico de investigação das idéias das crianças que
posteriormente tem sido generalizadamente utilizado. Foi o primeiro a estudar
sistematicamente a percepção e a lógica infantis; além disso, trouxe ao seu
objeto de estudo uma nova abordagem de amplitude e arrojo invulgares. Em lugar
de enumerar as deficiências do raciocínio infantil quando comparado com o dos
adultos, Piaget centrou a atenção nas características distintivas do pensamento
das crianças, quer dizer, centrou o estudo mais sobre o que as crianças têm do
que sobre o que lhes falta. Por esta abordagem positiva demonstrou que a
diferença entre o pensamento das crianças e dos adultos era mais qualitativa do
que quantitativa. Como muitas outras grandes descobertas, a idéia de Piaget é
tão simples que parece evidente. Já tinha sido expressa nas palavras de
Rousseau, citadas pelo próprio Piaget, segundo as quais uma criança não é um
adulto em miniatura e o seu cérebro não é um cérebro de adulto em ponto
reduzido. Por detrás desta verdade, que Piaget escorou com provas
experimentais, esta outra idéia simples — a idéia de evolução, que ilumina
todos os estudos de Piaget com uma luz brilhante. No entanto, apesar de toda a
sua grandeza, a obra de Piaget sofre da dualidade comum a todas as obras
pioneiras da psicologia contemporânea. Esta clivagem é correlativa da crise que
a psicologia está atravessando à medida que se transforma numa ciência no
verdadeiro sentido da palavra. A crise decorre da aguda contradição entre a
matéria prima factual da ciência e as suas premissas metodológicas e teóricas,
que há muito são alvo de disputa entre as concepções materialista e idealista
do mundo(...).
O seu livro, escreve ele, é, antes do mais, e acima de tudo,
uma coleção de fatos e documentos. Os elos que unem entre si os diversos
capítulos são os elos fornecidos por um método único a várias descobertas e de
maneira nenhuma os de uma exposição sistemática (29) (29, p. 1). Na verdade, o
seu forte consiste em desenterrar novos fatos, analisá-los e classificá-los
penosamente, quer dizer, na capacidade de escutar a sua mensagem, como dizia
Claparède. Das páginas de Piaget cai uma avalanche de grandes e pequenos fatos
sobre a psicologia infantil. O seu método clínico revela-se como uma ferramenta
verdadeiramente inestimável para o estudo dos todos estruturais complexos do
pensamento infantil nas suas transformações genéticas. É um método que unifica
as suas diversas investigações e nos proporciona um quadro coerente,
pormenorizado e vivo do pensamento das crianças. Os novos fatos e o novo método
conduzem-nos a muitos problemas; alguns são inteiramente novos para a
psicologia científica, outros aparecem-nos a uma luz diferente. Os problemas
dão origem a teorias, apesar de Piaget estar determinado a evitá-las atendo-se
estreitamente aos fatos experimentais — e passando, de momento, por cima do
fato de que a própria escolha das experiências é determinada por certas
hipóteses. Mas os fatos são sempre examinados à luz de uma qualquer teoria, não
podendo por conseguinte ser totalmente destrinçados da filosofia. Tal é
particularmente verdade para os fatos relativos ao pensamento. Para
encontrarmos a chave do manancial de fatos coligidos por Piaget teremos que
começar por explorar a filosofia que está por detrás da sua investigação dos
fatos — e por detrás da sua interpretação, que só é exposta no fim do seu
segundo livro (30), num resumo do conteúdo. Piaget aborda esta tarefa
levantando a questão do inter-relacionamento objetivo de todos os traços
característicos do pensamento infantil por ele observados, serão tais traços
fortuitos e independentes, ou formarão um conjunto organizado, com uma lógica
própria, em torno de um fato central unificador? Piaget crê que assim é. Ao
responder à pergunta, passa dos fatos á teoria e incidentalmente mostra o
quanto a sua análise dos fatos se encontrava influenciada pela teoria, muito
embora, na sua exposição, a teoria venha a seguir aos fatos. Segundo Piaget, o
elo que liga todas as características específicas da lógica infantil é o
egocentrismo do pensamento das crianças. Ele reporta todas as outras
características que descobriu, quais sejam, o realismo intelectual, o
sincretismo e a dificuldade de compreender as relações, a este traço nuclear e
descreve o egocentrismo como ocupando uma posição intermédia, genética,
estrutural e funcionalmente, entre o pensamento autístico e o pensamento
orientado. A idéia de polaridade do pensamento orientado e não orientado tomada
de empréstimo à psicanálise. Diz Piaget: O pensamento orientado é consciente,
isto é, prossegue objetivos presentes no espírito de quem pensa, É inteligente,
isto é, encontra-se adaptado a realidade e esforça-se por influenciá-la. É
suscetível de verdade e erro ... e pode ser comunicado através da linguagem(...).
Embora Piaget nunca tenha apresentado esta concepção de uma
forma coerente e sistemática, é ela a pedra de toque de todo o seu edifício
teórico. É certo que por mais de uma vez ele afirma que o pressuposto da
natureza intermédia do pensamento infantil e uma hipótese, mas também diz que
tal hipótese está tão próxima do senso comum que lhe parece pouco mais
discutível do que o próprio fato do egocentrismo infantil. Segue os traços do
egocentrismo na sua evolução e até a natureza da atividade prática da criança e
até ao posterior desenvolvimento das atitudes sociais. Antes desta idade,
Piaget tende a ver o egocentrismo como algo que impregna tudo. Considera direta
ou indiretamente egocêntricos todos os fenômenos da lógica infantil na sua rica
variedade. Do sincretismo, importante expressão do egocentrismo, diz
inequivocamente que impregna todo o pensamento da criança, tanto na sua esfera
verbal, como na sua esfera sensorial Após os sete ou oito anos, quando o
pensamento socializado começa a ganhar forma, os traços egocêntricos não
desaparecem instantaneamente. Desaparecem das operações sensoriais da criança,
mas continuam cristalizados na área mais abstrata do pensamento puramente
verbal. A sua concepção da predominância do egocentrismo na infância leva
Piaget a concluir que o egocentrismo do pensamento se encontra tão intimamente
relacionado com a natureza psíquica da criança que é impermeável à experiência.
As influências a que os adultos submetem as crianças.
Esta passagem resume a natureza dos pressupostos básicos de
Piaget e conduz-nos ao problema geral das uniformidades sociais e biológicas do
desenvolvimento físico, a que voltaremos na seção III. Em primeiro lugar,
examinemos a solidez da concepção de Piaget do egocentrismo da criança à luz
dos fatos em que se baseia.”
Lev Vygotsky no livro “Pensamento e Linguagem”
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pesnsamento e Linguagem. Edição
eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores. (www.jahr.org) 2. A teoria de Piaget sobre a linguagem e o pensamento das crianças.
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html#ind5
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